Dizem que é época de reflexão. Ora, para mim não passa de mais um dia para essa fantástica oportunidade, no meio da manta com o chocolate quente embrulhado por entre as mãos. E é um óptimo dia de introspecção, como é a maioria dos meus dias do resto do ano. Defeito intrínseco que, por vezes, colide com a minha necessidade de simplesmente sentir.
A música toca e embala-me os pensamentos, os sentidos, a minha vontade de fazer o obrigatório balanço do ano que está prestes a findar. Todos os anos são "normais", como os anteriores e, no entanto, singulares, com 365 novidades se realmente nos quisermos dar ao trabalho de recordar e as contar.
Com todos nós é assim, todos somos (também) a história que nos envolve. Revejo-me em qualquer trauseunte. "Strangers passing in the street, By chance two separate glances meet, And I am you and what I see is me". (Pink Floyd - Echoes)
Costumo dizer que, em termos meramente quantitativos perdi mais este ano do que ganhei. Ora não me podem ver mais porque não se sentem capazes de o aguentar ("Ouvi dizer que o nosso amor acabou, pois eu não tive a noção do seu fim..." - Ornatos Violeta - Ouvi Dizer), ora me desejam boa noite de forma não afável ("There's nothing I can say, nothing I can do now!" The Killers - Goodnight, Travel Well), ora a amizade que tanto nos sustentava se perde como se nunca existira ("This is the end, Beautiful friend, This is the end, My only friend, the end, Of our elaborate plans, the end, Of everything that stands, the end" - The Doors - The End).
A cada dia que ia passando, eu podia jurar que esquecido estava o assunto. No entanto, a superação revelou-se mais díficil do que o esperado, ainda incompleta.
Sim, isto marcou o meu ano, roubou pedacinhos de mim a pouco e pouco, modo lento e doloroso, acrescentou-me alguns anos aliados à fatal experiência. Um bom pai de família diz-nos que vai acontecer, avisa-nos da inevitabilidade de perdermos pessoas de modo inversamente proporcional aos anos que passam. Pretende proteger-nos e, naturalmente, de nada nos serve. Entregamo-nos de corpo e alma, atiramo-nos de cabeça, arrancamos o coração se necessário for, não obstante as falhas que também nos são inerentes enquanto peões da simples condição humana. Falho? Falhei? Pois claro que sim. Mas nada, digo nada, me mete mais confusão e me corrói tanto quanto tratar como mais um desconhecido, alguém que já foi parte de mim. Pessoas que foram minhas.
Tal trouxe-me dias confusos, introspecções em massa, alguma amargura. Uma busca incessante dos próprios erros, das múltiplas falhas, do eu. "It was me, waiting for me, hoping for something more. Me, see me in this time, hoping for something else" - Joy Division - New Dawns Fades.
Até que era imperativo passar à ressaca e consequente esquecimento. Decisão racional e imposição temporal. "Now it's time for changing and cleansing everything, to forget your love!" Muse - Plug In Baby.
Esta é a descrição da primeira metade. Na segunda metade do ano, em termos qualitativos, descobri o melhor que podia, parte da minha salvação.
"But can you save me? Come on and save me, If you could save me, From the ranks of the freaks, Who suspect they could never love anyone" - Aimee Mann - Save Me
Tenho aquele agradecimento particular, pela frescura revigorante que me foi trazida por alguém que eu praticamente não conhecia. Pela paixão suscitada quando menos esperava. Pelo carinho, conforto e paciência que me foram dados sem hesitação. :)
E com as pessoas que sempre aqui estiveram, qualitativamente superiores a todas as outras, a primeira metade do ano foi facilmente (?) superada. "Oh, I get by with a little help from my friends" - The Beatles - A Little Help From my Friends :) Para algumas, nunca, mas nunca caberá nas palavras o bem que me fazem, 365 sobre 365.
Falo e falarei sempre sobre relações pessoais. Não creio que seja de relevo mencionar os altos e baixos da parte profissional, embora seja inevitável de mencionar que as mudanças nesse campo também se mostraram positivas.
E assim concluo o ano com espírito positivo, como não poderia deixar de ser, sabendo que o que não me mata apenas me torna mais forte (ainda que fragilizada) e aguardando que 2010 seja menos agridoce. Doce, quero só doce. E o mesmo desejo a todos. "Between the click of the light and the start of the dream!" - The Arcade Fire - No Cars Go. E sabendo que tudo acontece por uma razão. Se o ano não pareceu perfeito, creio que daqui a uns anos estou a agradecer por todas as vivências.
"Everything in it's right place" - Radiohead - Everything in it's Right Place
Foi funk, rock, pop, clássica e todas as respectivas variantes. Excepto fado. Tudo menos fado.
:')
ResponderEliminarTodos os dias fazes jus ao epíteto com que, no meio dos meus devaneios (sensacionistas?), te nomeei.
Conheço o teu 2009. Conheço os teus caminhos. As tuas perdas. As tuas apostas acertadas. Em suma, conheço-te.
E é curioso notar que, por muito que te falhe o chão, mantens-te sempre igual a ti própria. Tal e qual como deve ser. Como desde o primeiro dia. Inteira.
Caso para dizer, 'Qualquer coisa em mim me lembra a Sorte, e eu confesso que eu aposto!' - Bem-vindo a Ti - Pluto.
Hum... música muito bem lembrada. Falhou-me essa, entre muitas outras. Mas sabes bem que essa sim me é intrínseca! ;)
ResponderEliminarHouve uma frase que me ocorreu, mas que não a incluí no post... fica por aqui:
"Terei toda a aparência de quem falhou e só eu saberei se foi a falha necessária."
:)
Desejo que em 2010, a música seja sempre a melhor...;).
ResponderEliminarJá tens os ingredientes necessários para isso...Não se faz ou sente boa música,sem boas pessoas e bons momentos para nos inspirar...assim como a sensibilidade para os sentir...Isso já tens tudo,nothing to worry about,portanto;)
Beijinhos.