Hoje apetece-me falar sobre a Presunção por ser, cada vez mais, postura adoptada que desprezo.
Acho extremamente curiosa a forma como me reuni com uma amiga que já não via há meses, durante umas boas três horas, conseguindo uns quinze minutos de antena, para poder afirmar que tudo estava bem.
Assim que uma pessoa tem uma vida aparentemente estável no trabalho e namora (e, espantemo-nos, dá-se bem com o respectivo, não tem muito para reclamar!), parece que mais ninguém tem nada a perguntar-te. Tornamo-nos previsíveis, sem novidades, desinteressantes. "Ah mas então não me perguntas nada da minha vida? As minhas novidades?", "- Ah presumi que tudo estava bem!": esta tirada é do mais egoista que já tenho vindo a ouvir.
Sim, também presumo que tudo esteja mal contigo, então para que raio contares-me as tuas histórias e tristes langores? Sim, também presumo que a tua vida seja totalmente desinteressante, então para quê provares-mo? Tens um problema, mas presumo que não seja de maior importância, portanto e se fossemos só beber um copo?
A opinião é geralmente infundada. Acresce que é também sinónimo de vaidade.
Entre amigas quer-se ouvir. Que está tudo bem. Preferencialmente. Se não está bem, então ouça-se o que vai mal. Não se pede mais nada, os conselhos estão baratos e fora de moda (ou não fossem todos iguais), mas ouvir e ser-se audível é, possivelmente, a mais gratificante experiência que se pode ter com um amigo. Nunca esquecendo que, por muito bem que conheçamos um amigo, nunca o sabemos na totalidade.
Talvez não sejamos tão presunçosos quando as coisas estão notoriamente mal. Aí sim: "como estás" para lá, "estás melhor" para cá, numa preocupação, por vezes, exarcebada e maior que a do próprio.
"Ah estás de bem com a vida? Presumo que sim. Nesse caso deixa-me contar-te toda a minha até ao mais ínfimo pormenor. Desejas falar? Pretendes partilhar a tua alegria? Algum episódio engraçado para desanuviar? Hum, não é importante. Presumindo que tudo está bem". Eu chamo a isto egoísmo.
Curiosamente, no mesmo dia uma outra amiga - maior, bem maior - usou a mesmíssima expressão.
Presumo que a minha vida me corre bem então. Ocorrendo-me sempre que, a um certo ponto, quem me presume, desistiu de me conhecer.
"Qual é a primeira coisa que deve fazer quem começa a filosofar? Rejeitar a presunção de saber. De facto, não é possível começar a aprender aquilo que se presume saber."
Epicteto
Eu, presuntiva (ou presunçosa? - curioso que isto esteja, ainda e sempre, associado à ideia de vaidade), de quando em vez, me confesso.
ResponderEliminarCurioso também - e, em parte, legítimo - que menciones que te ocorre que, quem te presume, desistiu de te conhecer.
Por outras palavras, presumes que desistiu de te conhecer...
Presumes.
Quem nunca presumiu nada nem ninguém que atire a primeira pedra... ;)
Lamentavelmente, eu já presumi e já fui presumida, mais vezes do que aquelas que gostaria.
Em todo o caso, continuo a acreditar em actos de contrição, na benevolência típica de quem nos quer bem, e na capacidade de regeneração que nos assiste.
Assim o queiramos.
Acção gera reacção. Nunca presumiria que não me queriam conhecer se já não me tivessem presumido, naturalmente. Portanto, esse argumento é falhado.
ResponderEliminarQuanto à questão de que quem nunca o fez que atire a primeira pedra, concordo plenamente. Não me recordo de me ter sentado com uma amiga sem me preocupar como tudo estava com ela - sei lá, parece-me implícito interessar-me - mas por certo já fui presunçosa em tantas outras coisas. Não creio que isso desculpe a presunção dos outros nem que me aleije mesmo.
Haja fé na redenção, mas mais do que fé actos. Há que agir. "Assim o queiramos".