Durante um estudo para um trabalho, tive de pesquisar quantos habitantes tem Vila Nova de Gaia. Pelos dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2009, eram 315.382. Numa semana em que muito pensei sobre amores e desamores - meus e dos que me rodeiam -quedei-me a pensar no quão não acredito no conceito de alma gémea. Aliás, o quanto o desprezo.
Não é o Porto, nem Coimbra, nem Amadora, nem Setúbal, muito menos Lisboa. Era Gaia e as suas 315.382 alminhas.
Se encararmos cada pessoa como um mundo, são 315.382 mundinhos, apenas em Gaia, já do outro lado do rio.
Não, nem vou falar da questão das probabilidades: se assim fosse todos desistiriam do conceito e ninguém teria coragem sequer para sonhar com ele, já que as hipóteses são ínfimas.
Falo das minhas vivências e das dos que me rodeiam.
Pois todos cremos, assim que estamos apaixonados por alguém, que não conseguiremos superar, que aquele é o meu mundo, que não há nada mais além. Essa pessoa não é um mundo apenas, é um mundo em forma de ilha onde só nós nos encontramos estirados na areia. É a nossa ilha deserta.
No entanto, é sabido que tudo se supera; a nossa alma vai para o próximo mundo um bocadinho mais fragmentada - tal como a cara terá, por certo, mais rugas - mas recompõe-se, esquece e consegue identificar-se uma vez mais.
Não, não estou a ser fria nem puramente racional. Já todos vivemos um ou outro desgostinho de amor e todos sabemos que, com maior ou menor tempo, seguimos em frente e passado algum tempo nem sequer as memórias nos assolam e temos de nos esforçar para relembrar o tom exacto dos olhos do outro. Para não falar no cheiro - tão íntimo e fundamental para a paixão, tão facilmente esquecido com o passar do tempo, ainda que nos esforcemos. Resta sempre um bocadinho do outro em nós, no entanto, já não nos atormenta: e isso também é esquecer.
Portanto, desprezo o conceito de uma única alma gémea que existe no cosmos para nos completar qual ying e yang. Mas acredito veementemente na existência de várias almas gémeas.
Sou tão adaptável ao típico intelectual (e por isso tencialmente deprimido) como ao típico desportista (e por isso tendencialmente feliz); adapto-me tanto aos que veem o copo meio vazio, como os que preferem encará-lo meio cheio. E nunca saberei dizer qual me apaixona mais. Qual me fascina mais um bocadinho. Não sei... Todos nós temos capacidade de encantar, simplesmente por sermos como somos - ninguém é igual ninguém.
Porque cada um é um mundo, porque cada um tem as suas (apaixonantes) particularidades - porque a raça humana é, por si só, fascinante. Não o todo mas também a soma das partes, das alminhas, uma a uma.
Somos simples mundos, em forma de pena - das que voam mais alto e nunca perdem a capacidade de se apaixonar, porque o seu horizonte é interminável. E podemos ser de todos os mundos, sempre numa entrega verdadeira. Reencontrarmo-nos em cada alminha, embrulharmo-nos nela deliciosamente.
Uma vez mais, acho que tudo se prende com uma questão de fé.
Não é o Porto, nem Coimbra, nem Amadora, nem Setúbal, muito menos Lisboa. Era Gaia e as suas 315.382 alminhas.
Se encararmos cada pessoa como um mundo, são 315.382 mundinhos, apenas em Gaia, já do outro lado do rio.
Não, nem vou falar da questão das probabilidades: se assim fosse todos desistiriam do conceito e ninguém teria coragem sequer para sonhar com ele, já que as hipóteses são ínfimas.
Falo das minhas vivências e das dos que me rodeiam.
Pois todos cremos, assim que estamos apaixonados por alguém, que não conseguiremos superar, que aquele é o meu mundo, que não há nada mais além. Essa pessoa não é um mundo apenas, é um mundo em forma de ilha onde só nós nos encontramos estirados na areia. É a nossa ilha deserta.
No entanto, é sabido que tudo se supera; a nossa alma vai para o próximo mundo um bocadinho mais fragmentada - tal como a cara terá, por certo, mais rugas - mas recompõe-se, esquece e consegue identificar-se uma vez mais.
Não, não estou a ser fria nem puramente racional. Já todos vivemos um ou outro desgostinho de amor e todos sabemos que, com maior ou menor tempo, seguimos em frente e passado algum tempo nem sequer as memórias nos assolam e temos de nos esforçar para relembrar o tom exacto dos olhos do outro. Para não falar no cheiro - tão íntimo e fundamental para a paixão, tão facilmente esquecido com o passar do tempo, ainda que nos esforcemos. Resta sempre um bocadinho do outro em nós, no entanto, já não nos atormenta: e isso também é esquecer.
Portanto, desprezo o conceito de uma única alma gémea que existe no cosmos para nos completar qual ying e yang. Mas acredito veementemente na existência de várias almas gémeas.
Sou tão adaptável ao típico intelectual (e por isso tencialmente deprimido) como ao típico desportista (e por isso tendencialmente feliz); adapto-me tanto aos que veem o copo meio vazio, como os que preferem encará-lo meio cheio. E nunca saberei dizer qual me apaixona mais. Qual me fascina mais um bocadinho. Não sei... Todos nós temos capacidade de encantar, simplesmente por sermos como somos - ninguém é igual ninguém.
Porque cada um é um mundo, porque cada um tem as suas (apaixonantes) particularidades - porque a raça humana é, por si só, fascinante. Não o todo mas também a soma das partes, das alminhas, uma a uma.
Somos simples mundos, em forma de pena - das que voam mais alto e nunca perdem a capacidade de se apaixonar, porque o seu horizonte é interminável. E podemos ser de todos os mundos, sempre numa entrega verdadeira. Reencontrarmo-nos em cada alminha, embrulharmo-nos nela deliciosamente.
Uma vez mais, acho que tudo se prende com uma questão de fé.
Quando eu era muito pequena ainda, o meu pai falou-me do mito do banquete de Platão. Fiquei fascinada, estava sempre a pedir-lhe que mo contasse.
ResponderEliminarÀ medida que fui crescendo, os mitos a contar e a ser contados passaram a ser outros. E quanto mais crescia - e mais sentia e via -, mais me apercebia de como a ideia subjacente ao mito do banquete do Platão é injusta e mázinha.
Bolas, pessoas são mundos tão grandes... Enormes... Como raio podem mundos tão grandes caber num mundo tão pequeno?!...
E a verdade é que cabem. Cabem todas! Lá está, só do outro lado do rio cabem quantas? trezentas e quinze mil e tal?...
PS.: F. de Farmácia. F. de Fé. *