Se num dia sinto que tenho uma Casa, noutro posso-me sentir sem chão nem tecto. Assim é quando se é movido por uma força caótica, quando uma paixão é tão forte que atravessa um turbilhão dia sim dia não. Penso para mim "típico": afinal era só o que eu queria. Uma paixão caótica. Ainda assim, comigo - ou não fosse eu o género de raparigas que cola cenas no frigorífico - as coisas más têm uma dimensão ainda maior e a tristeza que me pode assolar não é lágrima miúda mas um drama autêntico, ainda que só formulado na minha cabeça.
Já me disseram que sou demasiado intensa. Nos amores, nas amizades, até no trabalho. Não gostaria de ser de outra forma, com as vantagens e desvantagens dessa condição. Para quê ser se não for para se ser intensamente?
O dia fez-se sentir Primaveril e tirei a tarde de folga para tentar encontrar a minha alma na alma da cidade do Porto: o meu doce Palácio.
Estava qualquer coisa assim...
E se esta visão bastaria para me aquecer e voltar à minha normalidade (?), um pequeno sinal se aproximou de mim em tom de senhor adulto/idoso.
Perguntou se se podia sentar à minha beira. Respondi que o banco era público, que estivesse à vontade.
Ele sorri e conta-me como se costuma encontrar naquele lugar, onde já não ia há anos. "Então tem andado perdido?" faço conversa. Ele diz "Sim, mas escolhi sentar-me à sua beira porque a menina é que me parece perdida, parece-me triste". Claro que me ocorre que o senhor apenas quer dois dedos de conversa e uma companhia que lhe tirasse cinco minutos da solidão. Não me desagradava totalmente ou não fosse eu uma tagarela. Mas como poderia ver quão triste eu estava, por debaixo dos óculos escuros, com Arcade Fire no ouvido a rabiscar qualquer coisa como "I need the darkness, someone please cut the lights" no bloco de notas?
Mas percebeu.
Perguntou-me se era problema de amores.
Aceno com a cabeça.
Sem se intrometer, explicou-me "sabe menina, há quatro princípios mais um que cada relação devia basear-se, qualquer uma" e elencou: Verdade, Disponibilidade, Atenção, Compreensão, Aceitação (consciente ou inconsciente).
De cada vez que dizia um, perguntava-me quase em tom de desafio "concorda"? Ora eu não podia concordar mais. Disse-lhe que talvez, no meu caso particular, faltasse a compreensão.
Ele concluiu: "Não sei qual seja o seu problema concreto, mas afirmo-lhe que não há ninguém, rigorosamente ninguém, que só nos proporcione coisas boas; nem há ninguém, rigorosamente ninguém, que só nos proporcione coisas más. É a vida. E é o amor".
Com esta me deixou.
Pelo caminho até casa - que é curto - só me lembrava dos quatro princípios e o extra. Passei pelos mesmos sítios onde passo frequentemente. Mas a tristeza e a estranheza daquele sinal em tom de senhor adulto/idoso, poem os meus sentidos mais apurados, fico mais alerta, mais lírica e mais atenta a qualquer pormenor com que se me depare.
Deparo-me...
Verdade, Disponibilidade, Atenção, Compreensão, (e) Aceitação.
Em prol do bem comum. Para mim, o dois não vem sempre depois. O funcionamento do dois é um dos meus sonhos. Espero realizar.
/me ficou assim :')
ResponderEliminarOnde é que esse senhor idoso costuma parar? Sempre a raciocinar, Bruna Jil...O homem vai falar contigo e tu friamente achas que é porque se sente só...Não abraçaste a experiência sem qq tipo de julgamentos..;).
ResponderEliminar.
O senhor idoso retirou-se depois de referir os princípios?
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É mesmo isso. Até parece saído de um filme. Coisas mágicas acontecem no Palácio...;)
Brunita:)
ResponderEliminarHá qt tempo q já não falo cntg!!!! (culpa minha, bem sei:P)
Hoje decidi fazer uma visitinha ao teu "espacinho":)
Reencontei me em muitas frases no teu post:)e compreendo tão bem qd falas das "sensações" que o palácio nos traz...tranquilidade, paz interior, sossego para a alma:) Confesso, para mim o palácio é magico!!!
Já chorei e já fui mt feliz no meu palacete:)
A ver se marcamos um cafezinho em breve!!!!:D
Beijinho bem gd,
Teresinha
P.S- para mim, esse velhote seria um "vendedor de sonhos" :)
@ Joaninha: me too. Principalmente por ter sido tal e qual descrevi, nada fabulizada ou enfatizada. Uma tarde assim... :')
ResponderEliminar@ Ricardo: Admito que a primeira impressão foi a de que ele seria um solitário em busca de alguma conversa. Mas apercebi-me que a solitária era eu e ele só pretendeu consolar-me :) Aí sim, a partir desse reparo, apreciei a experiência na sua totalidade, como em regra tento fazer com tudo :)
Sim, foi-se embora assim que escreveu os princípios no meu bloquinho de notas. Tirei foto para postar aqui, mas não se percebia bem :) Não foi sem antes me desejar felicidades e dizer-me que era uma menina muito bonita :) Nunca me tinham abordado no Palácio. Era um dia em que eu precisava de estar apenas comigo e de ouvir silêncio - ou a minha música - mas soube muito bem, foi quase um sinal de qualquer coisa :)
@ Teresinha: Já fui muito feliz e infeliz no Palácio também. Digamos que esta tarde foi especial :) Porque é raro encontrarmos assim um "vendedor de sonhos" só para nós. Como já disse: eu estou atenta aos sinais e senti este senhor como se fosse um :)
Tenho saudades e aguardo uma mensagem para nos encontrarmos! :) Beijinho enorme *
E ainda para mais, escreveu os princípios num pedaço de papel!!???Isso é genial...Magic things do happen...;)
ResponderEliminarEscreveu sim, fez questão de ser ele mesmo! ;) No próximo encontro mostrar-te-ei! :) Magic indeed! :)
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