sábado, 13 de novembro de 2010

Ninho

Vou-me deitar e tu já te encontras na cama acompanhado d' "O Amor nos Tempos de Cólera". Só a imagem me enternece, assim logo à chegada.
Deito-me, com a plena intenção de adormecer depressinha, ou não fosse o dia seguinte trabalhoso e cansativo, uma vez mais.
Tento não me perder a observar-te. Sei que sou capaz de ficar em pura observação da tua cara durante horas até te saber de cor os poros.
Encosto a minha cara no teu peito e a respiração começa a ficar pesada. Os pelos do teu peito ondulam ao ritmo das minha expirações. Suspiro e tu arrepias-te.
Chove torrencialmente lá fora. Oiço o vento e a chuva a baterem contra a janela e com isso tento concentrar-me em dormir, mas não consigo. Enrosco-me em ti. Este simples estar enche-me com uma felicidade que não será possível de descrever: uma vez mais, não cabe nas palavras.
Tu não me embalas, tu despertas-me. Só por estares. Só por virares a página, só por sentir a tua respiração e ouvir os teus gracejos - que tentas proferir em surdina, mas que eu escuto atentamente.
Temos vários confrontos, temos tantas pequenas disputas. Talvez o que precisamos é de nos lembrarmos mais vezes destes momentos partilhados em silêncio. Em que tudo e nada se passa. Podia passar uma semana aqui sem me cansar. Um mês... Quanto tempo mesmo?

E isto é quentinho. Tão quentinho.

-E até quando pensa o senhor que podemos continuar neste ir e vir dum caralho? - perguntou-lhe.
Florentino Ariza tinha a resposta preparada há já cinquenta e três anos, sete meses e onze dias com todas as suas noites.
-Toda a vida - disse.

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