الملكية

Os pós de perlimpimpim dourados, a espuma amorangada, as bolas de sabão mágicas: tudo isto levaste contigo, não deixaste nada. Não restou nada. Nada sobrou.

Oh... Deixaste tanto, deixaste mais do que seria suposto, deixaste tudo. Deixaste-me sem nada. Deixaste com tanto. Sobrou tanto e não meros restos. Não, tu inteiro.

Sei bem o que nos une, sei bem a corrente magnética que nos impele sem explicação, sei da química que nos acorrenta. Sei que estás. Sei que estou.

Mas construí a casa para mim, para ti, para nós. E tu deixaste-a.

Deixaste-me a mim, não como me encontraste. Já não estou tão intacta. Mas esse deve ser estado passageiro. Mas estou mais e maior. Chegada a este ponto não sei como me olhar, estou grande. Mas só consigo vê-lo através dos teus olhos (esses teus olhos num desenho perfeitamente alinhavado que mais ninguém tem no mundo, eu juro - e o mesmo poderei dizer do teu polegar) e tu foste.
A tua ausência atormenta-me porque nunca conheci ninguém como tu. O que me assusta é que não me (re)conheço sem ti.
Não, não confundamos com egoísmo puro, não se trata de mim. Sou menos sozinha. Já o outro dizia que "juntos somos mais". Eu quero ser mais. Essencialmente quero-nos, mesmo que fossemos pequeninos.
Levaste tanto quanto deixaste. Deixaste tudo o que tu és também.
Talvez eu não consiga já dissociar-nos. 

Merda, já não sei o que sentir.