"Wanna dance?"

Há poucos filmes com cenas que realmente me tocam a alma. Curiosamente, se tiver de falar deste "Great Expectations", nem no meu top 30 de favoritos constará, garanto.

No entanto, a cena do beijo à chuva transporta-me mais além.

Começa com a determinação nervosa dele (se parece contraditório, não o é, juro), a entrada dele no restaurante ainda, acredito, hesitante sobre o que vai dizer, não obstante a postura firme.

"Queres dançar?". Ela está de costas e devem ser as costas mais deslumbrantes da história do cinema. Totalmente desnudas, num dos vestidos mais sensuais que já vi. Diz que sim.

Levantam-se e dançam ali, no meio do restaurante, tão povoado quanto distante. Afinal, não, não estaria ali mais ninguém. Os olhos deles firmaram-se de tal maneira um no outro, que ninguém entrava nesse mundo.

Dançam e ele toca-lhe no fundo das costas. Até me arrepio com aquele toque.

Saem, agora sim, ambos determinados.

Chove lá fora. Beijam-se intensamente. Foi o primeiro beijo intenso que deram, apesar de terem sido o primeiro beijo um do outro em crianças. Agora já não são crianças. Agora há medos, 'bagagem', expectativas, desilusões. Fazem amor pela primeira vez. Ela diz-lhe, ao final da noite, perante ele e a lua: "Adoro o modo como danças".

Eu sei a lamechice que tal pode soar, mas juro que não é. Com dois actores de topo (até aprecio mais o Ethan do que a Gwyneth, mas ela está de uma sensualidade irreprensível) a protagonizarem uma das cenas que me rouba o fôlego. Claro que para qualquer filme tocar tanto tem de ter uma banda sonora perfeita, o que é o caso.

Vi este filme ainda era muito pequena. Não gostei. Revi há dias. E esta cena (fica aqui o link da cena propriamente dita, infelizmente apenas encontro em dobrada em italiano) é, provavelmente, das mais bela que vi do cinema contemporâneo.

«Isn't that what you wanted? Aren't we happy now? Don't you understand that everything I do, I do it for you? Anything that might be special in me, is you.»

N.B. Filme baseado no livro de Charles Dickens com o mesmo nome; remake de um filme de 1946 com o mesmo título.

E ocorre-me este pensamento, simplesmente porque sou uma romântica da vida, às vezes aparente pseudo-intelectual no que diz respeito a cinema, mas que no fundo aprecia bem uma doce lamechice:

Sei que me pedias para dançar também. Sei que adoro o modo como danças.