sábado, 29 de outubro de 2011

Outono.

'É Outono, desprende-te de mim.

Solta-me os cabelos, potros indomáveis.
Sem nenhuma melancolia,
Sem encontros marcados,
Sem cartas a responder.

Deixa-me o braço direito,
O mais ardente dos meus braços.
O mais azul,
O mais feito para voar.

Devolve-me o rosto de um Verão,
Sem a febre de tantos lábios,
Sem nenhum rumor de lágrimas
Nas pálpebras acesas.

Deixa-me só, vegetal e só,
Correndo como rio de folhas
para a noite onde a mais bela aventura
Se escreve exactamente sem nenhuma letra.'

Eugénio de Andrade
in 'As Palavras Interditas'

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