terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.


Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca...

Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio.


Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza.
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada,
Mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida,
Mas a outra metade é saudade.


Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor:
Apenas respeitadas,
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.


Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada...

Porque metade de mim é o que eu penso
E a outra metade é um vulcão.


Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância.


Porque metade de mim é a lembrança do que fui
Mas a outra metade eu não sei.


Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais,


Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.


Que a arte nos aponte uma resposta,
Mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer...


Porque metade de mim é a plateia,
A outra metade é a canção.


E que a minha loucura seja perdoada...


Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.



(Oswaldo Montenegro)

Não há poema que me leia melhor. Não há.

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