sábado, 2 de janeiro de 2010

Einmal ist Keinmal (?)


«Tomás repete em silêncio o provérbio alemão, einmal ist keinmal, uma vez não conta.»
Milan Kundera




[Diálogo do imperdível 'Eternal Sunshine of the Spotless Mind']


Einmal ist keinmal. Uma vez não conta. Uma vez não basta.

Às vezes ocorre-me que há certas coisas que deveríamos ter a oportunidade de viver outra vez. Daquele preciso modo, naqueles exactos termos, só o vivemos uma única vez.

Um abraço. A acuidade genial do instante em que actualizes, pela primeira vez, que alguém te aconteceu. Um sussurro. A imensidão de um olhar trocado. Um beijo. Os instantes de cumplicidades radiosas. O espaço (ir)real do 'rente ao dizer'. Um toque de pulsos.

Não seria aprazível termos a oportunidade de viver todas e cada uma destas coisas, da mesmíssima forma, uma vez mais?...

Agrada-me a ideia de podermos levar connosco, para toda e qualquer parte, os instantes irrepetíveis da nossa existência, como um bilhete mágico que dobraríamos em quatro (seis?), e guardaríamos no bolso de trás das calças. Perfeitamente acessível. Sempre acessível.

Mas depois... não. Talvez não...
Talvez a sensação mágica de intemporalidade resida precisamente no facto cósmico de tudo e cada coisa se viver de uma determinada maneira, de forma imediata, sem qualquer tipo de preparação possível.

No espaço do aqui e do agora, os cinco 'sentidos todos num confundidos', e... inevitavelmente... a certeza premonitória e agri-doce de que, nenhum desses instantes se repetirá nos mesmíssimos modos...

2 comentários:

  1. Adorei o texto...Acho que uma vez abordamos esta temática...Um moment é por definição instante irrepetível...mas por ve parazes dá mesmo vontade de ter esse bilhete mágico que nos transporte para dado espaço temporal, que nos faça reviver da exacta forma como o vivemos anteriormente...mas desta vez com a sensação de que ele não voltará e de lhe darmos,por isso, mais valor do que alguma vez demos...Por vezes gostaria de viajar por entre as memórias...Reviver as palavras,os gestos, odores, um beijo,um abraço...congelar esse tempo por um instante...Tudo bem que o facto de ser irrepetível é que o tornou especial...Mas por vezes sinto que estamos a aprender, e ninguém nos diz o que fazer a seguir ou como devemos agir...Quando reparamos,esse tempo passou,é assustador pensar que é uma vida,uma oportunidade,uma escolha entre muitas e , ao mesmo tempo, somos seres que chegam ao Mundo ainda a terem que aprender...E o facto de não podermos aplicar aquilo que aprendemos a momentos que já passaram...
    .
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    Viajar no tempo sempre foi algo que, talvez por isso, sempre me fascinou...

    Já me estou a alongar...Tudo para dizer,grande texto,dos meus favoritos.

    Beijinhos

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  2. Adorei o texto também! O meu favorito até agora! xD

    Não me fascina particularmente a ideia de "ai se eu soubesse o que eu sei hoje"! Creio que aprendemos com as vivências, as conquistas e os erros.

    Se voltasse atrás fazia tudo igual? Naturalmente que não, precisamente porque entretanto aprendi e a experiência é sábia, se estivermos minimamente atentos. Obvio que os erros cometidos, te-los-ia evitado e tudo seria (aparentemente) mais perfeito.

    Mas não. As coisas acontecem por uma razão. Quero mesmo crer nisso.

    E como os instantes são irrepetíveis, há que os aproveitar. Como a vida é curta, há que vivenciar o tão aclamado "Carpe Diem" (de que todos falam, mas que poucos sabem sequer o que significa...).

    Os instantes ficam na nossa memória (que é traiçoeira, mas é a nossa, logo mais válida que qualquer outra) e a intemporalidade é (também) o que lhes dá magia.

    Sim, se voltasse atrás mudava algumas coisas. Não, não posso. Se me dessem a escolher, preferia poder? Não, não preferia. :)

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