
«How happy is the blameless vestal's lost
The world forgetting by the world forgot
Eternal sunshine of the spotless mind
Each pray'r accepted, and each wish resign'd»
The world forgetting by the world forgot
Eternal sunshine of the spotless mind
Each pray'r accepted, and each wish resign'd»
Alexander Pope, in 'Eloisa to Abelard'
'Eternal Sunshine of the Spotless Mind' é amor em forma incandescente e alucinado. É a concretização cinematográfica da definição, propriamente dita, de 'momentos', enquanto instantes irrepetíveis. Aqui, sensitivos. Sempre sensitivos. É a transfiguração da Memória em Ritual. Ritual imperfeito de reparação. É como (re)ver sensações através de um caleidoscópio.
Tem síntese de contrários (existenciais). Tem Poesia. Tem Silêncio. Melodias que pautam, deliciosamente, a cadência de um coração perante os mais diversos estados anímicos que os Itinerários de Afecto convocam.
E tem Memórias. Visuais. Olfactivas. Auditivas. tácteis. Interstícios sensitivos... Memórias como rastro de sinestesias... Memórias bem vincadas, do lado esquerdo, com ferros de [engo]amar, que nunca se perdem verdadeiramente. Que continuam para além de nós mesmos...
Faz parte do milagre das coisas que são minhas (também) porque encerra (em mim) a sensação tépida de eterno retorno. De que será, ainda e sempre, possível encontrarmo-nos em Montauk. Ou num qualquer outro lugar paralelo. Intemporal.
Assim o queiramos.
Tem síntese de contrários (existenciais). Tem Poesia. Tem Silêncio. Melodias que pautam, deliciosamente, a cadência de um coração perante os mais diversos estados anímicos que os Itinerários de Afecto convocam.
E tem Memórias. Visuais. Olfactivas. Auditivas. tácteis. Interstícios sensitivos... Memórias como rastro de sinestesias... Memórias bem vincadas, do lado esquerdo, com ferros de [engo]amar, que nunca se perdem verdadeiramente. Que continuam para além de nós mesmos...
Faz parte do milagre das coisas que são minhas (também) porque encerra (em mim) a sensação tépida de eterno retorno. De que será, ainda e sempre, possível encontrarmo-nos em Montauk. Ou num qualquer outro lugar paralelo. Intemporal.
Assim o queiramos.
Depois agradeces-me... até te mostro umas coisinhas giras aqui e acolá... :P
ResponderEliminar"Memórias bem vincadas, do lado esquerdo, com ferros de [engo]amar, que nunca se perdem verdadeiramente." Belíssima expressão.
Mas é curioso... ambos perderam completamente a memória. Creio que o filme nesse aspecto é claro e consensual para quem o vê. Ainda com ligeiros resquícios, com "cheirinhos" da vida anterior que lhes possam atravessar: eu cá não tenho dúvidas que a memória dela perderam. Por isso para mim, o mais fascinante é mesmo o simples: os seus caminhos terem-se cruzado outra vez, terem-se apaixonado mais uma vez. E quando souberam que a probabilidade de não resultar era maior... ainda assim arriscaram. Talvez da cabeça (talvez seja também lado esquerdo do cérebro) tenham-se limpado. Mas há sensações de tal forma vincadas no coração que acabam por nos impelir para o mesmo. Agora tentar outra vez uma relação já outrora fracassada é que é só para a coragem e valentia de alguns :)
Confere.
ResponderEliminarHá memórias que se perderam efectivamente, mas porque ambos se submeteram à 'intervenção'. Estou em crer que 'sem intervenções' elas não se perdem, ainda que possam desvanecer-se, desbotar qualquer coisinha...
E sim, quando falo de eterno retorno aqui, falo também no facto do fim ser o início. De terem chocado outra vez e esses tais 'vincos do lado esquerdo' terem ficado - uma vez mais - impecavelmente aprumados :) - não obstante terem sido amarrotados pelo lado esquerdo (ou direito?) do cérebro.
E quanto ao tentarem uma vez mais. É público e consensual que a tentativa (mesmo a 1.ª)implica sempre coragem. Re-incidir na tentativa implica um acto de fé elevado ao quadrado.
Seja como for, nunca conseguirei escrever nada que faça jus a tudo o esta tua prenda provoca em mim :)
"meet me in Montauk...."... Esse sussurro...
ResponderEliminar.
Já escrevi sobre o filme no meu blog,não me irei alongar muito...
Um filme de memórias...de momentos enquanto instantes irrepetíveis...
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Destaco o facto de teres incluído a palavra "interstícios" no texto.;)
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No mais, devo discordar à questão dela ter perdido totalmente as memórias deles...Não foi por acaso que eles se (re)encontraram em Montauk...Nem por acaso que ela,quando vê o seu novo namorado dizer coisas e a partilhar com ela momentos que eram dela e do Joel,ela não respondeu bem e sentiu-se mal...
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Não há acasos...Por mais que tentassem apagar-se...as memórias encaminhavam um para o outro...Já no final, foi aí sim um grande acto de fé...O saber tudo aquilo que um diria e acharia sobre o outro quando a relação terminasse,e mesmo assim...decidirem ambos tentarem outra vez.
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Acima de tudo releva,a forma como armazenamos as nossas memórias e a tentativa de Joel não a perder,e dar-lhe uma parte de si,através das suas memórias que sempre havia estado enclausurada nas páginas do seu diário...
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Isso aproximou-o ainda mais de Clementine...A ideia de que no fim de uma relação,ficam pintadas a tinta fresca,as palavras de rancor,a amargura, os feitios e diferenças irreconciliáveis...mas se fosse possível (re)viver as memórias desde o 1º dia até esse momento,não faltariam memórias que quereriamos guardar..."let me keep this one...". A ideia de que através delas,seria possível reapaixonarmo-nos...Nesse espaço sem limites temporais e num espaço incerto que é a nossa mente,é possível encontrarmo-nos...Uma vez mais...
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Gostei muito.
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Beijinhos
Já tiveste a sensação de "deja vu", certamente... mas afinal o que é isso? Ainda ninguém deu uma resposta totalmente certa e totalmente fidedigna. Reencarnação, linha "Matrix", tudo teorias para explicar esses momentos do género "já vivi isto".
ResponderEliminarCreio que ela os tinha, precisamente por ter ficado cicatriz no coração, "já ouvi isto". Mas com uma sensação tão forte que a deixou em pânico - o que também se vê imenso ou não fosse ela uma força da natureza, impulsiva por instinto.
Penso que é isso que acontece, um "deja vu all over again". E por isso também acredito que lhe tenham tirado todas as memórias do cérebro, mas nunca as que ficam guardadas no coração. E acho que até prefiro essa teoria: eles conseguiram efectivamente apagar todas as memórias e ainda assim estavam incontornavelmente destinados a se encontrarem. E ao saberem o que já lhes havia acontecido, resolveram arriscar uma vez mais. Um amor que parece que já surge do ódio mas com um feeling de "ainda assim vale a pena". É esta a minha teoria, tão defensável (creio)quanto a tua. Afinal também só divergimos num pequeno pormenor e eu tenho esta teoria porque até prefiro esta teoria ;)
As melhores partes, estamos de acordo: sempre as de apagar as memórias num acto de raiva e depois se aperceber que as quer manter, não a quer esquecer. Ou seja, vale sempre uma amor magoado ou uma recordação triste do que o esquecimento. A monotonia que se instala na relação deles (e em todas, há-de ser incontornável) e a possibilidade dos temperamentos e feitios irreconciliáveis, não são motivos suficientes para se apagar as memórias que temos. Eu prefiro dizer, quando algo acaba: valha-me a memória, o que de mais precioso posso guardar, aquelas que não estão registadas nem em fotografias, nem em vídeos. Estão em mim. E por vezes é melhor assim. Como se diz no "Estrada Perdida": "I don't like cameras, I prefer to remember things in my own way" - perigoso, mas muito mais íntimo. Essas memórias, por dolorosas que sejam são sempre de agarrar e se nos tentarem fugir, guardemo-las em qualquer lado, nem que seja no cantinho da humilhação! Eheh :P Beijinhos *