
Um dia Ele disse-lhe:
'Aprendi que não encontramos a felicidade nas expectativas que criamos para a nossa vida, mas sim nas coisas que nos acontecem e que podemos viver. E há coisas que nos acontecem e que sentimos que não é por acaso que nos acontecem e é imperativo que as vivamos. Deve ser isso a tal felicidade.
Durante muito tempo fui guardando coisas para usar ou consumir em determinados dias. Tu sabes como é, reservar para mais tarde… O certo é que nunca as usei ou consumi. Porque os dias esperados nunca aconteceram ou aconteceram de forma diferente das minhas expectativas. Então percebi que podia estar a fazer da minha casa um museu de coisas boas desperdiçadas e da minha vida uma estação de esperas.
Aprendi.
Aprendi a não planear a longo prazo. Que os momentos irrepetíveis que a vida nos oferece, ainda que possam ser breves, são a única felicidade palpável. Hoje estou feliz por me ter cruzado contigo e por poder estar aqui . Por isso, hoje não queria estar em mais lugar nenhum, senão aqui.’
Retirou uma peça do seu museu e partilhou-a com Ela.
Ela e Ele sempre foram diametralmente opostos.
Mas sempre funcionaram bem, apesar (por causa?) disso.
Contrariamente a todas as expectativas, num dia em que o sol brilhava com um despudor de indiferença em relação à verdade que Ele lhe contava - Vou ter de me ir embora... Vou estar a uns 300 kms de ti - ele foi embora.
Assim, sem se saber, sem se contar.
Na altura, Ela foi fulminada por uma sensação de medo que lhe apertava o esófago, como que um presságio de que ele pudesse ter razão.
Hoje, Ela sabe que Ele tinha e tem razão.
A felicidade vive a paredes-meias a com isso.
E isso é a imperatividade de sermos.
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