"É curioso. Só se julga profundo o que disser coisas diferentes de toda a gente. E todavia a grande originalidade está em dizer as mesmas coisas, mas ao nível do espanto e maravilha que nos despertam. Toda a gente sabe que o homem é mortal, mas poucos veem isso e se espantam de que seja assim. Toda a gente sabe que há plantas e estrelas e tudo o mais. Mas conhecê-los ao nível do extraordinário é raro como ser doido. A grande originalidade não é dizer coisas novas mas ser novo diante das coisas velhas."
Virgílio Ferreira in "Contra Corrente 3"
Somos todos complexos, pseudo-intelectuais, filósofos da treta, detentores da psicologia barata. Somos pretensiosos e até arrogantes. Achamo-nos mais inteligentes e cultos do que a maioria dos mortais, cremos que somos originais só porque nos ocorreu uma ideia que julgamos nova até nos apercebermos da sua banalidade, ou não estivessem as palavras (e tudo) gastas. O pior é que não nos apercebemos do banal que é o ser-se assim...
Esquecemo-nos da meninice, do prazer das coisas simples, de apenas sentir ao invés de reflectir sobre o porquê, o como, o quanto e a forma desse sentimento. Lamentavelmente a idade adulta tira-nos cor e sabor, traz-nos medos e fraquezas - que juro, não tinhamos aos 13 anos de idade! - acarreta dúvidas existenciais e torna-nos incontornavelmente impuros. Banal, banal...
A raridade é encontrar alguém na sua idade adulta que ainda se delicia com brincadeirinhas na neve gelada ou no mar morno, tem prazer ao apenas sentir um cheiro que lhe é familiar, se ri ininterruptamente de coisas pequenas até cair no chão, não teme fazer figuras parvas, vê o mundo a cores. E mantem aquele brilhozinho no olhar. Sim, aquele...
Conforme avanço na vida, apercebo-me da raridade destes seres. Tão raro, tão singular e tão peculiar que me custa a crer que ainda existam e que eu o possa ter encontrado. Puros na essência, ingénuos como uma criancinha. Capazes de ainda pular pelos montes, dançar em praça pública e fascinarem-se com a magia das bolas de sabão.
E isto é revigorante.
:)...Quem será...?;)
ResponderEliminarNão podia estar mais de acordo com o texto...Brilhante mesmo.Andas inspirada.Não consigo acrescentar nada que não pareça estúpido depois deste texto.
:)
ResponderEliminarSabes... lamentavelmente (e até com vergonha) admito que me incluo no primeiro grupo descrito. Sou das que têm um pouco a p*** da mania (em bom português!). Depois deparo-me a fazer uma das minhas introspecções e concluo: talvez tudo isso ajude a tornar-me aparentemente mais interessante, no entanto, isso desvanece-se perante a banalidade que de facto é.
Tenho tentado aprender com os que me rodeiam a ver e apreciar as coisas simples. Vou tentar não ser tão intolerante e esforçar-me-ei por não me chatear com coisas irrelevantes. Acho que se nota que eu e o meu "bolinhas de sabão" somos ying e yang (e ainda ontem alguém me disse isso). Creio que resulta e que é uma constante aprendizagem e evolução. Espero chegar a esse estado que considero superior. Espero ter essa capacidade... :)
Quanto a andar inspirada, depende mesmo dos dias. E como já podes ter observado, ora é para o positivo, ora é para o negativo. Tal como tu - creio eu - escrevo à medida que me surge a vontade e a ideia. Ás vezes saem coisas engraçadinhas, outras nem tanto... :P
Sejam textos mais tristes,mais alegras,mais esperançados ou pessimistas, sente-se que estás bastante inspirada...Próxima das ideias,das sensações...Se calhar não estás assim tão longe...
ResponderEliminar.
Ps.Também eu sou por vezes um pseudo intelectual, na tentativa de dotar de complexidade tudo o que que me rodeia...mesmo aquilo que deve ser simples.
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Essa dicotomia entre o simples e o complexo e como ambos jogam é algo que me apaixona e ao mesmo tempo intriga.
Também gostava de chegar ao estado das coisas simples...A esse local que deverá estar algures dentro de mim.Todos devemos ter esse potencial...
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No entanto, sempre me caracterizei por me apaixonar pelas pequenas coisas...por me deter em pormenores...
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beijinhos
:')
ResponderEliminarÉ o brilhozinho nos olhos de quem valoriza as coisas... certas.
Simples.
Ainda) Devia ser assim. Sempre assim.