sábado, 4 de fevereiro de 2012

Nostalgia


Nos dias que passo sozinha e revisito os meus albuns favoritos, não posso deixar de me lembrar do que já foi e não volta a ser.
Começamos a trabalhar. Média de 10 horas por dia. A Aprendiza bem diz que "não nos pagam o tempo que nos tiram", eu acrescento "nem a espontaneidade".
Lembro-me dos tempos de loucura, sem grandes previsões de calendário, qualquer noite podia ser de diversão. Falávamos de tudo e de nada, conheciamo-nos ou queriamos crer que sim. Partilhávamos os desgostos e as alegrias por entre as goladas de um fino ou de um moscatel e umas trincadelas nos tremoços. A noite era uma adivinha, sem hora para terminar.
Lembro-me da terra e do ar seco dos festivais, onde nos deitávamos sem nos ralar se a roupa ia ficar irremediavelmente estragada. Ao longe ouvia-se a música, fechávamos os olhos e todos os problemas que tinhamos sabíamos ter solução. As preocupações eram relativas. Os desgostos e desamores não nos matavam; moíam mas não matavam. Tínhamos tempo para sará-los, tínhamos tempo para conhecer uma nova paixão.
Sabia as músicas de cor, as letras de trás para a frente e estava sempre actualizada. Agora estou actualizada se ouvir alguma música na rádio durante o trabalho, ou se me der a colocar no mp3 a caminho... do trabalho.
Como saborear as minhas paixões? Como ter tempo para vivenciá-las?
Lembro-me que mesmo quando andava triste o cinema sempre me preenchia, as vozes enchiam-me a alma e agora, nem para as paixões físicas tenho verdadeiro tempo. "Vamos almoçar, mas tem de ser uma horinha, não mais", "vamos jantar e ver um filme mas secalhar vemos até meio porque depois fica tarde", "ouve esta música. Não tive tempo ainda de conhecer o artista mas adoro a música".
São frases que constantemente tenho dito que outrora não dizia.
Saudades dos tempos "vamos almoçar e ficar numa esplanada a preguiçar", "vamos sair já! Para onde? Não importa.", "quero estar contigo, preciso de te falar. Sobre o quê? Nada de especial".
Detesto assumidamente rotinas, detesto amores duradouros que esquecem a paixão, temo os compromissos, numa hora quero algo para sempre, na seguinte desejo não a ter.
Ainda sou plena de inconstância, agarrada a todos os tempos felizes e descontraídos que vivi até aqui.
Assumo-o, assumo-o perante todos. Kurt Cobain once said "I'h rather be hated for who I am, than loved for who I am not".
Ainda sentindo que iniciarei uma carreira que me apaixonará, onde guardarei espaço para tudo o resto que me define? Conseguirei combinar? Sentirei de novo o cheiro da chuva no meu cabelo sem me preocupar se me constipo? Agora se me constipo tenho de faltar ao trabalho, ou fico sem energias para o mesmo, portanto mais  vale colocar todos os agasalhos.
Terei espontaneidade? Conseguirei ter tudo?
Ainda tenho isto tudo em mim.
Conseguirei?

I guess...



3 comentários:

  1. Tempo. Tempo. Tempo.
    Que coisa preciosa... Tanto mais quando (se nos) rareia...

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  2. :) Tempo... "Que seja infinito enquanto dure." Vivamos e abracemos o que temos. Noutras palavras: "Carpe Diem"! ;) Beijito*

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  3. :') Adorei o encaixe do nosso Vinicius aqui! :) Obrigada! :) *

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