sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Dois vícios

Dos dois vícios, quero largar um e ficar só com a tua pele.
Conseguir, como nunca consegui antes, saciar-me exclusivamente por observar-te a dormir, por ver-te virar ao contrário na cama e tentar perceber a tua respiração pelas tuas costas. Deleitar-me. Sabes o que significa?

Tu sabes que não te amo devagar, tu sabes que sou sôfrega. Talvez porque segundo Pedro Chagas Freitas, sou uma grandessíssima 'anormal'. Mas não sei fazer as coisas de outra maneira que não através do drama. É dramática a forma como te observo. Como me aborreço por quereres apagar a luz do quarto quando eu queria uma luz ténue a incidir sobre ti. Tento-me em acender a luz do telemóvel mas compreendo que queiras o teu descanso. E nem durmo bem, esperneio e roubo-te os cobertores; há dias assim. Há dias em que o teu abraço e os beijinhos nas costas não chegam. Há dias em que apenas me quero perder e morrer a olhar para ti.

Agora com a nossa nova etapa de convivência diária, finalmente tenho conseguido olhar-te mais. Ver-te a trocar de roupa, insistir sempre para que me dês um abraço durante o processo, só para conseguir sentir os pelos do teu peito.
E olhar-te, deleitar-me, ficar de orelhas em baixo qual cachorrinho quando entras no pijama. Bolas, já te tinha dito que devia haver uma Lei que te obrigasse a andar sempre em roupa interior, devia!
Quero-te como meu único vício, minha perdição, minha extrema loucura.
Perguntei-te se querias, que não seria fácil aturares-me.

Ao contrário de Manuel António Pina (a quem hoje, dia da sua morte, deixo a devida homenagem) nada aqui é feito devagar. Só vou ter contigo devagar pela parte em que sou masoquista e reconheço que o empatar do prazer, aumenta o mesmo quando se atinge. Só por isso.
Vou ter contigo, sôfrega pois tal como o outro vício: o maior problema é a adição. E querido, três anos disto e ter-te comigo todos os dias agora na nossa casa... chama-me totalmente addicted.

«Amor como em Casa»
Regresso devagar ao teu

sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.



Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde"

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