sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Hoje não dá


Não, não dá; sem hesitação – se hesito, ai se hesito! Lembro-me sempre do outro que dizia "Que jogo jogas agora, enquanto a minha clepsidra se consome?*", sabendo eu que os pedaços de ti que restam em mim, sempre me levaram a dizer que sim e, por essa razão, esses pedaços de ti estão agora só em ti, juntamente com os meus que levaste e não devolveste; parte de mim foi contigo, está contigo, não é mais meu (alguma vez foi, todavia?).
Ao ritmo descompassado da minha
não hesitação (nem por um momento julgues que considero dizer-te que sim! Disseste-me que era óbvia, porém inconsequente e tresloucada; eu cá julgo-me somente firme), quebro o tacão da minha bota esquerda – aquela vermelha, tu recordas-te, com que te saciei os fetiches, não tendo tu sequer me acalmado esta bomba que trago no peito, nem por três instantes.
Pela razão sempre soube que não iria, mas sempre fui. Talvez só mais uma vez para que te faça entender que não és dono de mim: vou porque quero, não porque mo sugeres. Vou porque quero provar-te o que eu sou, apenas para to dizer: sempre firme, uma personalidade rochosa, quase hercúlea, cabeça tão erguida que me confundirás com um pavão. Não nos tocaremos, não perceberás sequer que tenho aquele perfume, não… Pensando melhor:

Hoje não dá.




* in "Amor" by Giorgio Manganelli


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