terça-feira, 26 de março de 2013

'Eternal Sunshine of The Spotless Mind'

Recordo-me tão bem – a imagem é de tal forma nítida, como não me aleijar? – de quando me levavas à escola: por vezes vestias as roupas por cima do pijama; outras, face à preguiça costumeira que sempre caracterizou a família Veiga, bastavas-te com o casaco em cima do pijama.
Perguntava-te:
- Mãe, não temes ter um acidente e teres de sair do carro nesses preparos?
- Oh, tenho algum problema com isso! Sou
fashion e elegante de qualquer forma!
A boa disposição matinal, lamentavelmente, não foi característica que tenha conseguido herdar de ti!
Entrávamos no nosso Ford Fiesta vermelho e, como o cumprimento de horários nunca fora o teu forte, ‘sinais vermelhos rasgados’ enquanto cantávamos (bem alto) "quando alguém nasce, nasce selvagem! Não é de ninguém!"

Ríamos no fim e sabíamos que esta cumplicidade da alma não iriamos mais encontrar, nem que a procurássemos em três vidas.
Não sei ainda se hei-de agradecer por tão fresca memória – recordo-me do teu cheiro, do teu sorriso, das tuas rugas, dos teus calos, do teu humor, da tua candura, da tua bondade; enfim, de tudo em ti, fotografado analogicamente –, se a hei-de amaldiçoar: deveria tentar apagar (-te); a dor que fica pela tua ausência – ausência sempre presente – é proporcional ao amor que te tenho e me deste: abismal.
Mas temo que acabaria, tal como no filme: "Let me keep this memory… just this one!"
 
Esquecer-te seria perder tudo o que sou, tudo o que almejo ser, tudo em mim.
Seria esquecer-me.

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