terça-feira, 23 de julho de 2013

Chagas - Parte II


Escreva um texto que se inicie com uma expressão/frase do tema musical que vai ouvir.
 
“Eu não sei onde a noite me leva”, toca na rádio enquanto pressiono com um bocadinho mais de força o acelerador: só o suficiente para, no caso de embate, me transfigurar a cara de modo igualmente proporcional à forma como me desfiguraste a alma. Realmente não imagino onde a noite me leva e sempre soube que a minha obsessão em escutar as canções, me fariam sempre trazer ao de cima o meu lado mais negro: chego a nem temer a morte – do corpo, porque a alma já ma deixaste dilacerada. Penso que devo responsabilizar o meu Pai que, quando eu era ainda muito nova, me quis dar a conhecer os Pink Floyd. Achou que a música ideal para me iniciar naquela que seria a minha banda favorita de todos os tempos, seria a “Another Brick in the Wall”, no entanto, certamente receoso que eu pudesse tornar‐me uma
adolescente rebelde, advertiu-me: “ouve esta música mas não ligues muito à letra”. Escutei de imediato. Talvez por isso: sou completamente aguçada pelo lirismo, só o som não me preenche. É semelhante a um livro com uma brilhante capa e pouco conteúdo.
Disse‐te por palavras – lamento a falta de jeito em expressar‐me por qualquer outra forma! – “podes chamar‐me de tua”. Para meu espanto, após tantos anos de convivência, disseste não me compreender… Não consegui musicar as minhas palavras mas a minha dança expressa-se através delas, creio: imagina‐me simplesmente a dançar à chuva com Bom Iver de fundo. Como não prestarás atenção às letras, ouve apenas e vê-me.
Não me parece que esta vida valha a pena sem paixão nem música: a sério, que nos restará?
Bati com a porta, ciente que nunca mais te veria – que deixaria a “this is Hardcore”dos Pulp para o desconhecido mais próximo (nem que seja surdo!) – concordando, pela primeira vez, com o outro que cantava que “não se ama quem não ouve a mesma canção”.
Não penhoro coisíssima alguma nem te obrigo a Rivolis: não quero que sejas nada do que não és. Sê real e desprovido de interesse, não permitas que a arte te toque.
Tentei enquanto consegui, mas entretanto "I become comfortably numb”.

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